sábado, 2 de agosto de 2008

Limitações na experimentação animal

Em pauta:
Reproduzo abaixo um texto publicado no blog da Veja pela geneticista Mayana Zatz. Um leitor indaga sobre a reprodutilidade em humanos dos testes com célula-tronco realizados em animais experimentais. A cientista reporta as limitações e as dúvidas quanto a transferência dos resultados obtidos em cobaias não humanas para seres humanos.
Doutora Mayana, sempre despertou minha curiosidade o fato de pesquisadores utilizarem elementos da biologia humana nos testes em animais. Eu explico. Suponha que queiramos saber se uma célula-tronco (CT) humana transforma-se em músculos. Para isso, primeiro os pesquisadores pegam as CT humanas e implantam essas células em músculos de uma cobaia, digamos um camundongo. Mas suponha que a experiência não tenha dado certo. Como saber se o fato de uma CT humana não ter virado músculos em camundongo tem ou não relação com diferenças biológicas entre homem e camundongo? Será que se ela tivesse sido implantada em humanos, ao invés de camundongos, teria virado músculos? (Marcelo)

Prezado Marcelo, sua questão é extremamente relevante. O que observamos com a experiência que fizemos em camundongos é que células-tronco humanas, derivadas de tecido adiposo, têm o potencial de se transformar em músculo. Mas e se o experimento não tivesse dado resultados positivos em camundongos? Será que teria funcionado em seres humanos?
Essas são as limitações das pesquisas visando terapias
Não podemos testar diretamente em seres humanos. Recebo diariamente dezenas de e-mails de pessoas com doenças graves, progressivas, oferecendo-se para serem cobaias. Seres humanos não são cobaias. Não podemos submetê-los a nenhum experimento antes de avaliar os riscos de cada procedimento. Mas voltando ao experimento com as cobaias. Se não tivéssemos encontrado células humanas nos músculos dos camundongos eu me perguntaria: a) Foram rejeitadas pelo sistema imunológico do camundongo? Ou b) não se transformaram em músculo por causa das diferenças biológicas entre homem e camundongo?
A cada resposta, abre-se um leque de novas perguntas...
Para responder a primeira pergunta eu poderia usar camundongos especiais chamados nude (pelados). Esses camundongos, chamados de “pelados” porque não tem pêlo, nascem sem o timo. Por causa disso, seu sistema imunológico não funciona e eles não rejeitam organismos estranhos. São muito usados em experiências como essas, de transplantes de células humanas. Aliás, entre os vários experimentos que fizemos, um deles foi mostrar que os nossos camundongos tinham o sistema imunológico normal e mesmo assim não rejeitaram as células humanas. Se a nossa experiência não tivesse funcionado mesmo em camundongos nude, a segunda pergunta ficaria sem resposta. Mas ainda temos muitas questões...
Os resultados positivos em camundongos significam que vai funcionar em seres humanos?
Não sabemos, embora a torcida seja enorme. Por isso, precisamos repetir esse experimento em modelos animais mais semelhantes ao homem, como o cão. E novamente teremos a dúvida. Se não der certo, seria por causa das diferenças biológicas entre o homem e o cão? Se der certo, ainda não é uma certeza que vai funcionar em humanos, mas será muito animador. É o passo mais próximo a que podemos chegar antes de testar essa estratégia em pacientes.

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